quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Política da bola murcha


*Ronaldo Lessa
Lendo um texto acerca da atividade esportiva, de autoria da doutora Flávia Fernandes, com mestrado em Psicologia pela Universidade de Londres, resolvi destacar este seu pensamento: “O esporte é importante para a saúde e para o bem-estar do ser humano. Para a criança, pode ser um fator fundamental de desenvolvimento”. Logo em seguida, sou estimulado a revisitar um passado recente, vivenciado há quase uma década, quando as agências vinculadas às Nações Unidas elaboraram relatório oficial, intitulado “Esporte para o desenvolvimento e a paz”.

O trabalho objetivou traçar diretrizes com vista às metas evolutivas para o milênio. Lá no segmento introdutivo do documento, uma afirmação inquestionável, que vai ao encontro das reflexões emanadas pela doutora Flávia e por organismos de categoria internacional: “O esporte é fundamental para o desenvolvimento de uma criança. Ensina valores, tais como a cooperação e o respeito. Traz melhorias para a saúde e reduz a probabilidade de doenças”.

O documento vai além, ao associar aspectos atinentes à economia das nações: “É uma força econômica significativa que gera emprego e que contribui para o desenvolvimento local. Além disso, reúne indivíduos e comunidades, servindo de ponte entre as diferenças culturais e étnicas”.

Mais adiante, o relatório das Nações Unidas põe o dedo na ferida e critica aqueles que não elegem a atividade esportiva como algo prioritário na gestão pública: “Ao mesmo tempo em que o esporte e a brincadeira são repetidamente reconhecidos como um direito humano, nem sempre são considerados como uma prioridade e já foram até mesmo chamados de ‘direitos esquecidos’. O esporte é considerado um sub-produto do desenvolvimento, não um motor”.

Se os governantes refletissem sobre a profundidade desse documento, talvez a disseminação da atividade esportiva, em outra dimensão, já tivesse produzido frutos mais substanciais, na perspectiva da consolidação de uma cultura de paz entre os seres humanos.

Diante de tais argumentações, lamentavelmente, não é nada edificante o exemplo ofertado pelo governador de Alagoas em termos de política de esporte para o nosso Estado. Primeiro, ele acabou com a Secretaria de Esportes, quando o País já possuía um Ministério voltado para esse segmento. Depois, escanteou ainda mais essa política, ao marginalizar, no âmbito da Secretaria de Educação, a disseminação de ações em caráter estadual.

Enquanto outros Estados dão goleada, ao investir no esporte como instrumento de inserção social e de geração de oportunidades, revelando jovens e interferindo positivamente em sua formação, num contexto de combate à violência e de construção da paz, o governo do Estado faz a política da bola murcha.

Recentemente, o governador esteve em audiência com o ministro dos Esportes, o alagoano Aldo Rebelo. A cena foi até politicamente constrangedora, pois o Aldo, como filho desta terra, sabe do descaso do governo tucano e de sua desconexão com os avanços obtidos pelo governo federal. É o inverso do clima vivido por um País que se prepara para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas.

Este ano, os esportes entrarão naturalmente na pauta de debate da sucessão municipal, com as diversas esferas de poder sendo alvo de observações advindas da sociedade, na perspectiva da formulação de políticas que favoreçam nossa juventude, especialmente aquelas que vivem sem esperança na periferia das cidades.

*É ex-governador do Estado de Alagoas.